A partir de 2021 resolvi ser old school na hora de trabalhar. Caderno, lápis, borracha e caneta no lugar do computador. Aproveitei para tirar do armário um dicionário já vencido pelas novas regras ortográficas, mas que no que tange a sinônimos e antônimos, continuava perfeito.
Venho tentando limitar meu acesso ao virtual a poucas, pouquíssimas horas no dia, e para tanto, precisei definir o que buscar e o que ler, só que muito difícil para quem cria conteúdo e oferece infoprodutos.
Acredito que a partir do isolamento social temos vivido um paradoxo. Se antes falávamos para os filhos saírem da internet, naquele período os obrigamos a ficarem horas assistindo aulas e tentando fazer parecer normal a então anomalia cotidiana.
Se antes os serviços de entrega eram pouco usados, agora são normais e integrados à nosso dia-a-dia, da verdura ao jantar super requintado.
As redes sociais viraram fonte de referência, o mister google nosso melhor amigo. E, se não soubermos fazer bom uso do bombardeio de informações – verdadeiras, plantadas, falsas como uma nota de R$3,00 e as catastróficas, terminaremos mais cansados e loucos do que já conseguimos ficar desde então.
Mas o que tem isso a ver com voltar a ser old school no trabalho? Tem que grande parte de nós, que trabalha em “romoffis” (home office, ou trabalhar em casa) não consegue trabalhar sem ficar além do trabalho, navegando nas redes e sendo bombardeado (não tem termo melhor) por milhares de informações e mais ainda, por desinformação.
Eu pessoalmente, já em 2020, já havia decidido que telejornais eu assistiria uma vez ao dia, se tanto. Escolhi o que melhor se ajustava ao meu estilo de narrativa e pronto. Nas redes sociais não apenas por trabalho, já que tenho perfis profissionais, o planejamento de postagens e o de acompanhamento têm que ser um cuidado constante, porque senão é um tal de estarmos vendo um perfil e quando reparamos já visitamos outros cinquenta, assistimos um sem número de vídeos e acompanhamos pessoas que não nos acrescentam nada de bom na vida, ao contrário.
“Temos sempre momentos livres quando sabemos ocupar-nos; são as pessoas que nada fazem a quem falta o tempo para tudo.”
Manon Roland
Como fugir disso? Reconhecer a infoxicação – termo criado em 1996, pelo físico espanhol Alfons Cornella , descrevendo o neologismo que resulta da soma de “intoxicação” com a “informação”, condição em que se percebe a compulsão pode conteúdos informativos – não apenas da internet, mas de todos os meios, que torna o indivíduo incapaz de realizar uma análise crítica das informações recebidas, e de se abster da quantidade e qualidade das mesmas.
Hoje uma criança de dez anos tem mais informação que reis e imperadores dos século XIX. Tem à sua disposição não apenas a informação escolar, mas viaja por conteúdos legais e ilegais com muita facilidade. Os adultos têm o mundo – literalmente – nas mãos, tornando-se também um divulgador de informações que vão impactar outro tanto de pessoas.
Como saber se você está infoxicado?
Acompanha muita gente nas redes sociais e está o tempo todo voltando a elas, perdendo o que está ao seu redor;
Lê ou assiste notícias compulsivamente;
Acredita piamente nas matérias dos jornais, sem desconfiar de dados, fonte ou conteúdo;
Sofre de aumento de ansiedade se não acompanhar desde as redes sociais aos jornais;
Sente tristeza, estresse ou sentimentos negativos após cada noticiário, e desencanto com a vida, comparando-se com os ‘personagens” das redes sociais (sim, muitos influencers não passam de personagens e a vida deles em nada se parece com a imagem que vendem);
Começo de Síndrome da Fadiga Informativa (conceito nomeado pelo psicólogo David Lewis, autor do livro ‘Information Overload’, no qual afirma que a overdose de informações pode nos gerar irritabilidade, distúrbios de sono, problemas gástricos, dificuldades de memorização, tensão e estresse, podendo ainda atrair consequências maiores tais como doenças psiquiátricas (depressão, pânico, ansiedade entre outras).
Se você tiver tremedeiras ao ficar sem ler notícias ou mexer em sua rede social, ou tiver ataques de “eu quero! eu preciso!”, atenção, você está no caminho de precisar de acompanhamento profissional.
Como resolver?
Resolver não é o termo certo, pois cada caso é um caso. Entretanto, se você se perceber como um infoxicado e a partir de agora, estipular regras para seu comportamento frente às redes sociais e televisão.
Reduza o número de perfis para seguir. Dê preferência àqueles que acrescentam alguma coisa de qualidade à sua vida.
Determine (e siga) o tempo para permanecer nas redes sociais e navegar por sites da internet, ainda que para pesquisa.
Saia de casa sozinho se não estiver nos grupos de risco. Caminhe em volta do quarteirão.
Vá cuidar de outros afazeres – plantas, ler, organizar a caixa de ferramentas, jogar paciência. Algo fora do computador ou do celular.
Viva seu momento presente sem fotografar para postar. Pode até parecer estranho, mas é possível.
Desative todas as notificações das redes sociais e até do famigerado WhatsApp (A não ser que seja empresarial). Você perceberá um incremento de qualidade de vida sem igual.
Se não conseguir se afastar das fontes de tensão ou de dependência, busque auxílio psicológico. Você está deixando de viver sua própria vida para viver a fantasia das redes sociais e adoecendo pelo pesar dos noticiários. E mais, com certeza está se privando de momentos incríveis com sua família, com seus colegas e com você mesmo.
E quanto ao fato de eu estar voltando a ser “old school’ no trabalho, posso até estar perdendo tempo ao escrever no caderno e não diretamente no computador, porém percebi que minhas ideias fluem muito bem nas folhas brancas de papel; que faço algumas rasuras e muitas flechas para dar ordem e sentido nos textos e nos planejamentos, e desenho em volta dos conteúdos ou entre atividades. Porém, quando sento no computador para repassar o trabalho, o tempo perdido com o caderno é ganho na falta de navegar na internet sem perceber. O computador se resume apenas a uma ferramenta de depósito do material escrito, tabelas e agendas.
Imagem: Moamar R Rony, por Pixabay.